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Reflexões

Princípio e fim

10 de outubro de 2019 by Jeff Skas Nenhum comentário

“No princípio era Aquele que é a Palavra”
Assim descreveu o apóstolo João.
Em “A grande arte de ser feliz”,
Rubem Alves discordou do evangelista.
Para ele, João esqueceu de mencionar que
esta palavra era de uma canção.
Diz ele: “No princípio era a música”.
Mas Rubem Alves esqueceu também
de dizer algo sobre a canção.
Está tatuado em meu braço, putra frase
do próprio. originalmente publicada
em seu “Quarto de Badulaques”:

Amar é ouvir.

Que outro motivo teria o universo para
compôr uma canção, se não O AMOR?
Alice Ruiz, esposa de Leminski
contrariando ambos afirmou:
“No princípio era o silêncio”.
Preciso discordar de todos eles.
Se o princípio era silêncio, palavra e
música, se amar é silenciar, é escrever,
é compor. Nada existia antes do amor.

Por isso afirmo, contrariando o evangelista,
o escritor e a escritora, corrigindo o gênero,
pois se era a palavra, era Ela. E se a vida se
fez, fez através dela. Toda a vida conhecida
foi gerada por uma mulher, porque a primeira
vida foi concebida por Ele e não Ela?

Registre-se:
“No princípio era Aquela que é a palavra. E a palavra era: Amor”.

“Mas ele, o si mesmo, também não tinha alegria. Por isso, aquele que é só, não tem alegria. Então ele ansiou por outro. Ele era grande como um homem e uma mulher quando se enlaçam. Ele dividiu o Si Mesmo em duas partes. Daí, se originaram marido e mulher. Por isso, esse corpo é como uma parte separada do Si Mesmo. Por isso, este espaço vazio é preenchido pela mulher – 800 a.C.” – Perceba que a partir do nascimento da nossa capacidade de racionalizar a própria existência, temos dificuldades de entender o motivo pelo qual de fato existimos. Por que existe algo ao invés do nada? Antigo questionamento filosófico. Parte de nós é mistério. E quanto mais avançamos o conhecimento científico, matemático e filosófico, chegamos a uma única conclusão. Este mistério é sempre maior do que pensávamos anteriormente. É a partir desta premissa, que buscamos respostas mais simples, menos incertas. Convencionamos que uma vida com propósito é aquela em que temos dinheiro, bens materiais, alguém que desejamos e nos deseja, uma meia dúzia de bons amigos, reconhecimento social de nossas habilidades e feitos. Estranhamente, ao alcançar este status, parece que a velha pergunta continua sem resposta. Está lá no velho livro do cristianismo, a tríade dos sentimentos humanos: fé, esperança e amor. No intuito de alcançar nossas buscas, estes três pontos parecem ser importantes. Mas Cristo deixou claro que entre eles, existia um soberano: O amor. De alguma forma estranha, convencionamos a ideia de que o amor, é um estágio que sucede a paixão, esta forma que nos atrai a outro ser. Em verdade, o amor seria a força que mantém duas pessoas juntas, quando o tórrido desejo da paixão se desfaz. Assim, relações fugazes seriam aquelas em que a chama da paixão se apagou antes de nascer o fogo do amor. Não tenho dúvidas que o que nos atrai uma pessoa é puro desejo. E ele não precisa ser sexual. Pode ser até o desejo do fim de uma solidão apenas. Drummond nos alertou quando disse que o tangível, torna insensível a palma da mão. O desejo, seja ele despertado por qualquer que seja o impulso, é sempre a vontade de se ter o que não se tem. Assim, quando se tem, deixa de ser desejo. Aquele homem que perdeu o interesse em ti, logo após o orgasmo, pobre ser, era só alguém completamente escravo do próprio desejo. Mas o amor é o contraponto do desejo? Não. O contraponto do desejo é o medo. O que faz um casal continuar junto após o término do desejo é o medo da solidão. A dificuldade de voltar para casa e se ver diante do vazio da própria existência. E para não olhar para aquela sombra escura na alma, colocamos alguém na frente. Como alguém que varre para debaixo do tapete a sujeira. O amor nada tem a ver com a vontade de estar com alguém. Aliás, o amor tem mais compromisso com a partida do que com a chegada. Minha ex-noiva era uma mulher linda, engraçada, divertida, inteligente. Quando eu a vi a primeira vez, não foi amor à primeira vista. Como alguém poderia pensar em amor se cada parte de mim a desejava? Eu nunca fui um homem clichê. Nunca pareci um cachorro no cio. Sempre fui respeitoso e gentil. Mas quando a vi eu era só irracionalidade. Lembro quando ela tirou a roupa pela primeira vez. Acho que fiquei uns cinco minutos tentanto entender que aquilo de fato estava acontecendo. Claro, estou lhe relatando isso, relembrando o sentimento daquele instante. Não sou saudosita. Apenas tenho boa memória. Lembro de um momento interessante. A paixão era algo que não parecia diminuir em nada. Talvez porque, apesar de te-la ao meu lado, eu sentia que poderia perde-la a qualquer momento. E me recordo um dia, em que fazíamos amor no ápice do desejo e da paixão. E em meio a tudo aquilo, ela parou tudo que estava fazendo e apenas me olhou. E percebi uma lágrima caindo do seu olho. E de repente um sentimento muito forte me tomou por inteiro. Algo difícil de explicar. Era como se tivesse percebido o exato instante em que o amor entrou em nós. Como uma energia da existência. Como se ouvisse a voz de Deus. Como disse, o amor não é o que aproxima duas pessoas. Mas uma força que conduz o universo. Esta força estava nos levando adiante. Não estava nos aproximando. Já éramos muito amigos, muito próximos, muito apaixonados. Se tratava dos caminhos da nossa existência e não da nossa trajetória juntos. Essa mesma energia eu senti outra vez tomar meu corpo. Foi quando ela partiu. E ao partir, no abismo da sua ausência o amor me conduziu novamente adiante. Respeitando o caminho dela. Entende que o amor não é aquilo que nos une? O amor é a força que nos conduz. O mesmo amor que faz uma mãe gerar um filho, será o mesmo que lhe afagará para entender que sua cria deve partir em busca da própria história. O que então nos faz ficar com alguém? Muitas coisas. Medo, solidão, conveniência, amizade, empatia, conformismo, oportunidade, comodidade. Já o amor, o amor é o que transpassa toda a existência humana. É a partícula de Deus que mantém o universo. Sobre aquela pergunta: Por que existe algo ao invés do nada? Existimos porque amamos. Deus é mistério. O universo é mistério. Nós somos mistério. E o mistério é o amor.

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Amor•Contos•Reflexões•Vida

Por onde eles andaram…

27 de março de 2019 by Jeff Skas Nenhum comentário

Quando ele olhava para todo o espectro da sua vida, percebia que a busca por conhecimento, pela espiritualidade, pelo desenvolvimento do pensamento, por uma reatividade mais branda e consciente, não é um caminho de crescimento ou inteligência. Mas um acender de luz sobre a escuridão da ignorância. Continuaremos e terminaremos incalculavelmente tolos e desinformados.

Passou uma grande parte da vida tentando entender como e porque os sentimentos habitavam seu coração. Coração ou mente? Coração sente? Não sabia dizer nem porque associamos o coração ao sentimento do amor. Talvez, porque ele acelera diante da pessoa amada? Se questionava, mas como em muitas circunstâncias, não sabia a resposta. Sabia certamente que não sabia quase nada e tinha certeza de muito menos que isso.

Um dia já cansado de tantos desertos que atravessou, encontrou pelo caminho uma garota. Sentada na beira do caminho com o olhar vago para o horizonte, como se esperasse alguma coisa ou alguém. Com a calma e uma sutil melancolia no olhar, de quem sabe que a espera pode ser longa. A força evidente que a habitava, também denotava um considerável cansaço.

Ele a cumprimentou, ela singelamente respondeu, tinha uma voz firme e eloquente, com um sotaque engraçado, certamente não era das mesmas terras que ele. Levantou-se, sacudiu o barro da roupa, sacudiu os longos cabelos cobertos de areia, limpou um pouco o rosto e ao seu lado lentamente foi caminhando. Ela fez uma pergunta sobre sua vida e ele foi lhe contando, sem perder o passo, o que o deixava distraído.

Perguntou se ele não me importava de caminhar solitário e ele respondeu que era melhor assim. Sozinho seguimos nosso próprio ritmo e servimos somente aos próprios propósitos. Sem distrações e desvios do caminho. Ela sorriu como se soubesse de algo que ele ainda desconhecia. Afinal, ela já era uma distração.

Diante das perguntas que se seguiram, ele disse: ‘Vou lhe propor um desafio. Você acredita no sentimento de amor entre um homem e uma mulher?’. Queria pegar ela de surpresa diante da clara habilidade e agilidade nas palavras que demonstrava naquele curto diálogo. Ela apenas lhe respondeu: ‘Se você questiona a existência de algo, é porque essencialmente este algo existe de certa forma, nem que somente como questionamento’.

Ela claramente sempre tinha uma resposta rápida e com tom de obviedade. Ele continuou: ‘E você, acredita no amor?’. Ela novamente, como se já tivesse antecipado aqueles questionamentos disse: ‘Não posso acreditar em algo que é’.

Um sentimento estranho lhe invadiu a mente. Por um momento o caminho já não importava. Ele parou então, pela primeira vez depois do longo trajeto que lhe trouxe até ali. Gentilmente ele pediu: ‘Me conte mais sobre você?’. Ali ele havia percebido, que precisava conhecer mais dela, já que agora teria uma companhia para continuar a caminhada.

Aos poucos percebia que ela lhe contava sobre histórias que ele já conhecia. Lhe contava de como tinha sido dolorida sua vida. E ele só pensava que queria ter chego antes para evitar alguns sofrimentos. Mas que podia fazer se a distância era tão longa. Aos poucos ele a reconhecia em outras feições. Diferentes de outras vidas que eles se encontraram. Ele sabia que não havia começado ali. Era um reencontro e toda aquela conversa era apenas uma confirmação da identidade.

Dizem que eles continuam caminhando juntos. De mãos dadas. Dizem que é o que mais gostam de fazer: caminhar de mãos dadas. Dizem que ela continua lhe explicando sobre o amor e que ele continua lhe fazendo outras perguntas.

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Autoestima•Positividade•Reflexões•Vida

É a vida…

by Jeff Skas Nenhum comentário

O mundo não mudará. Aceite que o mundo não mudará em absolutamente nada. E provavelmente assim será, como sempre o foi. Mas existe algo que pode mudar: você pode mudar a forma como olha para tudo e como reage diante deste olhar.

Já fiquei muito triste quando pessoas das quais ajudei muito, simplesmente viraram as costas e seguiram sem nenhum gesto de gratidão. Entenda que gratidão não é receber um elogio, mas saber que você vive dentro da outra pessoa, que ela se importa, que ele te importou para dentro.

Então passei a não esperar que meus gestos de bem querer e nem mesmo todas as batalhas que travei pelo outro, precisavam criar um elo que nos ligasse. Porque o intuito não é me perpetuar no outro, mas sim, entender minha incapacidade de permanecer inerte diante da possibilidade de estender a mão. Algumas pessoas se aproveitarão disso, mas calme, importante mesmo é que a sua intenção continua imaculada.

Depois passei a perceber que aos poucos, a vida acaba afastando estas pessoas. O que passei a entender como livramento.Trabalho finalizado. Cada pessoa que se vai, outra aparecerá. Talvez seja justamente este o propósito. Seguir de missão em missão até se tornar desnecessário, o que ao invés de descaso, demarca o fim de um caminhar. Tornar-se obsoleto para alguém é nada além do que a missão cumprida.

Já fiquei muito triste com a quantidade de reviravoltas que minha vida deu, de quantas coisas a vida me tirou. Então passei a entender que a vida gosta de me dar lições. E levando em consideração a dureza dos ensinamentos, passei a acreditar que sou alguém muito importante. Por qual outro motivo a vida perderia tanto tempo comigo?

Ela poderia estar preocupada ensinando pequenas lições para milhares de outras pessoas, mas vira e mexe ela escolhe a mim. E estas tantas desgraças passadas, também me colocam na posição de alguém muito experiente em lições da vida. O que novamente me faz acreditar que me torno a cada delas, um ser humano melhor.

Já reclamei da solidão. Hoje percebo que o caminho do entendimento, que é sempre interno, é também solitário. Quem decide passar por essa vida e sair sabendo quem foi, percorrerá um caminho bem profundo, silencioso e escuro. Distante de muitas pessoas que preferem apenas seguir sem atribulações.

Já reclamei de pessoas que me ofenderam. Mas entendi, que estas ocasiões servem para me lembrar, como é cruel a ofensa gratuita. Quanta dor podemos causar a alguém próximo. E saiba, você causa dor também. Talvez bem profundas. Sentir em si a dor da incompreensão, nos torna pessoas mais gentis.

Então, ainda que o mundo não mude. Ainda que as pessoas não mudem. Você pode ver tudo por outro ângulo. Com outra lente. Aceitar que tudo é como deve ser. E tudo acontece para lhe fazer seguir adiante. E tudo é ensinamento. A vida conversa conosco o tempo inteiro. E nós a ignoramos a maior parte do tempo.

Ouça. Atente. Silencie. Acalme. Sinta. 
Só mais um segundo. 
Ouviu isso? 
É a vida…

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Reflexões•Vida

24 de março de 2019 by Jeff Skas Nenhum comentário

Quantas vezes você se perguntou como será o dia de amanhã?
Quantas vezes se perguntou se valerá a pena?
Os carros mais seguros e as saúdes mais frágeis.
Até onde irá caminhar a tecnologia?
O que de nós se manterá intacto?
Ao futuro frio, programado e artificial?
Como uma ampulheta, minuto a minuto, 
contando grão em grão de areia,
o quão pouco ainda somos humanos.

Ninguém mais houve o leve som da areia que cai sobre o vidro.
E assim a vida se faz verdade.
Quanto menos areia de um lado, mais do outro.
O mau e o bem não existem em exatas proporções.

Assim como na ampulheta,
a cada vez que um lado se esvazia, o outro se preenche.
Só um dos lados pode receber grãos de areia de cada vez.

Em cada ato de nossas vidas, nossa ampulheta gira, 
gira e troca sua posição.
Você é um só ser de cada vez
Eternamente esvaziando ou preenchendo,
Seu lado bom ou seu lado ruim.

Acredite: Fazer o bem não é combater o mal, mas transforma-lo.
A mesma areia que preenche nossos sentimentos de ódio,
será a mesma que preencherá nossos corações de amor.
E nessa troca infinita de medidas,
confudimos qual de nossos lados possui mais areia.

Para isso, olhe mais para dentro de você
Saiba agir no momento certo e cuide para nunca deixar
os grãos do bem se acabarem por completo.

Quem sabe, sua ampulheta nunca mais volte para o mesmo lugar.

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Autoestima•Poemas

Somente minha…

by Jeff Skas Nenhum comentário

Quero uma poesia somente minha.
Escrita com palavras bem dispostas.
Que formem belas frases.
Que alterem meus sentidos.
Que mereçam ser repetidas.

Quero uma poesia só pra mim.
Que fale sobre coisas que sinto.
E do que não sinto também.
Que seja escrita em silêncio.
Melhor ao som de uma canção?
Que seja escrita em uma manhã de inverno.
Que as letras borrem no orvalho.
Poderia ser embalada por ondas do mar.
Terminando ao entardecer.

Quero uma poesia só pra mim.
Que fale ao meu coração.
Que me faça sorrir.
Também pode me fazer chorar.
Que as lágrimas que caírem,
levem as tristezas.

Quero uma poesia só pra mim.
Que seja suave.
Que me faça sonhar.
Que me faça acreditar.
Que me faça sentir.

Quero uma poesia só pra mim.
Com vírgulas,
Exclamações!
Sem ponto final
Uma poesia que me traga respostas.
Que me deixe em dúvida.

Quero uma poesia só pra mim.
Que fale das coisas que eu senti.
Dos amores que não vivi.
Que possua tenha rima.
Boas, para que não deprima.
Que não faça sentido para ninguém.
Somente para mim, pois quero uma poesia…
Somente minha.

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Crônica•Reflexões•Vida

Por um pedaço de pão…

22 de março de 2019 by Jeff Skas Nenhum comentário

A necessidade de saber lidar com o pouco, sempre foi uma busca constante.
A desigualdade sempre foi uma realidade que me deixou vagando, entre sentimentos de inquietação, perplexidade e revolta.

Nos últimos dias, particularmente, alguns acontecimentos tornaram isso mais evidente diante de mim. Poucos com muito e muitos com tão pouco, uma realidade que precisa ser alterada, urgentemente.

Precisamos ter consciência que neste exato momento, alguém desejaria comer aquele resto que comida que você joga no lixo. Aquela roupa velha que você usa para secar o chão, poderia aquecer alguém em uma noite fria.

O desperdício é tratado como um atentado a sobrevivência dos recursos naturais de nosso planeta, mas esquecemos de refletir que antes disso é uma afronta a condição humana de solidariedade e compaixão com nosso semelhante.

Queremos sempre tudo e nada será o bastante, nossa insatisfação mesquinha e egoísta nos afasta da capacidade de entender o quão ineficaz e desnecessários são nossos desejos materiais.

Ao invés de comprar nossa felicidade, poderíamos doa-la, pois quem ajuda divide o que tem, para multiplicar aquilo que realmente precisa: amor.

É tão simples e ao mesmo tempo tão difícil e passível de erros.

Escrevi ele originalmente em 27 de janeiro de 2010 no site Gelo Negro.

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Autoestima•Crônica•Reflexões

Sobre o ego…

20 de março de 2019 by Jeff Skas Nenhum comentário

Os últimos dias estive longe do Gelo Negro (site onde este texto foi originalmente escrito), me espanto quando conto os dias e percebo que passou uma semana. Tenho me dedicado a mim um pouco. Como já disse aqui, por algumas vezes, eu sou diretor de arte, na verdade não sou diretor de nada, sou um criador apenas, buscando a cada dia encontrar uma forma para sobreviver disso. Neste tempo, passei a olhar um pouco mais para dentro de mim e para fora também. Olhar minha vida, tentar entender o que aconteceu até aqui, em meus vinte e nove anos de vida. É estranho como tudo me parece tão confuso.

Recebi um convite, muito generoso, de uma estudante de São Paulo (sou de SC), para participar de um documentário que ela está produzindo, para seu curso de Relações Internacionais. Aceitei o convite, mesmo com todos os pudores que eu sabia que teria que superar. Achei interessante a definição de ‘pudor’ do dicionário:

Talvez seja esta, a principal preocupação. É estranho você aceitar fazer parte de algo que fale de você, sem que isso afete seu sentimento de modéstia, sua vontade de ser muito menos significativo do que sua obra. Talvez eu tenha aceitado o desafio de me confrontar com meus receios, por saber, mesmo que de forma inconsciente, que isso me levaria por novos caminhos, abrindo novos horizontes. Nossa fé inoscente de que tudo que é novo, tem o poder de modificar o status quo. Incrivelmente uma nova perspectiva se abriu. Larissa, a até então desconhecida estudante paulista, estranhamente interessada em saber da minha vida, da minha relação com a arte, das minhas opiniões sobre estes assuntos, queria saber tudo o que nunca me foi questionado. Ninguém até hoje, havia tentado encontrar alguma relevância nas coisas que eu faço.

Venho aqui de tempos em tempos, colocar em textos os sentimentos que invento, das vivências que eu tenho, movidos pelas experiências que me acontecem, mas no fundo eu não sei para quem eu escrevo e pouco sei sobre a relevância daquilo que faço. É humano deixar reverberar por mais tempo e de forma mais intensa, as críticas mais contundentes. Em algum grau lógico, me parece dois lados de uma balança. Quem muito se importa com elogios, acaba por se envaidecer. O caminho da vaidade, é certamente o que esconde mais perigos, ao mesmo tempo que ele te traz confiança e se torna propulsor de seu próprio destino, você facilmente pode perder o controle da direção, fazendo seu caminho desviar por completo.

Em contrapartida, se importar com as críticas e desacreditar de si mesmo, criar uma incapacidade muitas vezes engessante. A vida é definitivamente complexa. Sabemos que o melhor caminho nisso tudo, é seguir o equilíbrio, o ecletismo, o problema é saber em que ponto do espaço e da mente ele está. Diante de críticas, elogios e nossas próprias convicções, perdemos facilmente o referencial, usamos uma bússula de vida, completamente sem norte, pouco confiável e pouco precisa. Me parece mais aceitável, uma combinação homogênea entre percepção, vigilância e sorte.

Parte do vôo é orientado por ventos que nunca sabemos para onde soprarão. Nestes últimos dias, a Larissa passou a ler, grande parte de tudo que escrevi aqui. Levantou dúvidas sobre mim que eu não soube explicar, lembrou de momentos que eu havia esquecido e me despertou um sentimento interno de estranheza. Será que eu me perdi entre as histórias que vivenciei e as que eu inventei? Enquanto tentava responder suas perguntas, tentava na verdade responder para mim mesmo:

Afinal, quem sou eu?

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Amor•Lembranças•Reflexões•Vida

One love…

by Jeff Skas Nenhum comentário

Você possivelmente já ouviu falar do amor sob as mais diversas perspectivas. Das suas diversas manifestações. Quem sabe leu algo sobre a diferença entre amor e paixão. E sem dúvida cruzou com alguém que quis provar sua inexistência. Certamente amargurado com um amor perdido.

Quero contar sobre um tipo de amor em especial. Uma forma de manifestação que não exige reciprocidade e que ainda assim não é platônico. Independe da distância, condições e lógica. Com ele apenas o desejo do querer bem, sem dores, cobranças, tristezas, decepções. É preciso lembrar que não exige condição ou lógica.

Sendo assim, continuo a cultivar este sentimento.

Passam os dias e em todos lhe desejo que sua vida siga um rumo bom e que suas escolhas sejam sempre acertadas. Desejo que ninguém lhe faça mal e que a sorte sempre caminhe ao seu lado. Desejo também que você ame e seja amada. Não necessariamente correspondida em exatas proporções, mas o suficiente para sentir que valeu a pena. E então, amando e sendo amada, que este amor se manifeste de diversas formas, porém intenso, verdadeiro e se assim quiser o destino, eterno.

De você não peço nada em troca. A motivação existencial do que sinto é apenas sua felicidade plena. Não sei explicar de forma clara ou coerente como de fato nasce este amor. Muito provavelmente se constrói ao longo de muito tempo, motivado pela nossa incapacidade de administrar os caminhos tão diferentes que cada vida segue. Quase me esqueço. Respeitar os caminhos naturais da vida, aquilo que alguns chamam de destino é ingrediente principal para sua manifestação.

Foi assim, quando nossos caminhos tomaram direções opostas que ele se manifestou enfim. Ou talvez o percebi transformado ou adaptado.

Hoje, conheço pouco sobre sua vida, sua rotina, seus anseios e amigos. Espero no estanto que sejam justos e divertidos. Hoje desconheço os seus planos para o futuro e nem espero que eu esteja neles, quero somente que você os alcance e que torne cada um realidade. Que ao olhar para trás, você se sinta realizada e orgulhosa de si mesma. Vai garota…

Hoje desconheço como são seus dias. Espero ainda assim, que sejam sempre ensolarados, com uma refrescante chuva no final da tarde. Talvez porque eu me sinta feliz em dias assim. E talvez você também se sentirá.

Eu não lhe vejo acordar todos os dias e por isso eu desejo que suas manhãs carreguem sempre a motivação necessária para começar sempre. Que então, a preguiça lhe encontre apenas nas manhãs de sábado para lhe fazer ficar até mais tarde na cama.

Eu nunca lhe disse, mas queria que soubesse. Quando inimigos se erguerem contra você, mesmo que um exército inteiro deles, você deve ter fé e não temer. Espere na fé de Deus.

Você nunca mais dividiu comigo os momentos ruins. Eu quero acreditar que eles não existem. Porém, se minhas orações não tenham sido suficientes para evitá-los, que você lembre que em mim tens minha eterna fidelidade que nunca lhe negará a mão.

Eu lhe percebo distante e só espero que seja sempre assim.
Que você esteja feliz como éramos quando criança.

À você, minha irmã, todo o meu amor.

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Autoestima•Reflexões

Mergulhos profundos…

by Jeff Skas Nenhum comentário

Estranho como situações em nossas vidas se entrelaçam, um assunto resgata um pensamento aleatório, remete a outro, cria uma repetição e lhe conduz a algo que já estava perdido no tempo e na memória.

Recentemente uma situação me fez recordar de quantas vezes já fui classificado como alguém ‘pra baixo’.

De fato fui uma criança um tanto solitária, paradoxalmente ao fato de gostar de pessoas.  Meus irmãos mais velhos não compartilhavam do meu dia-a-dia. Fui um garoto circunstancialmente só, nunca fui distante ou anti-social. Drummond teria sintetizado: ‘Vai, Jeff! ser gauche na vida’.

Sempre vivi circunstâncias que me isolaram parcialmente. Mudei muitas vezes de colégio por minha mãe ser professora, perdendo as amizades que conquistava. Comecei a trabalhar aos quatorze anos, o que me afastou da possibilidade de encontrar os amigos depois do colégio. Aos quinze, quando iniciei o segundo grau, fui estudar em outra cidade, onde necessariamente você acaba se sentindo um intruso, principalmente vivendo dentro de uma região de colonização européia, onde receptividade é artigo de luxo, com preço fixado.

Fiquei me questionando novamente, quanto deste ‘diagnóstico’ realizado à minha revelia, por alguém que desconheço, poderia ser verdade. Então pensei nestes rótulos que nos são dados ao longo da vida, a bel-prazer. Refleti sobre a completa ineficácia dos pré-julgamentos.

Todo rótulo, como a palavra sugere, é fixado no mesmo lugar onde são desenvolvidos: na superfície, na embalagem, no lado de fora e inevitavelmente, apesar da tentativa de descrever seu conteúdo, trata-se apenas de um rótulo, uma sugestão com pouca ou nenhuma garantia de assegurar o conteúdo. Como somos mais complexos que uma fórmula química qualquer, rótulos não podem definir tudo aquilo que nos compõe.

A tentativa da pessoa em me colocar no balaio dos anormais, usou como base os textos do Gelo Negro (antigo blog de onde retirei este texto), olhou e disse: ‘Olha, não te falei? Tá aí, é depressão pura isso’.

Eu até poderia concordar, se misturado à toda essa ‘melancolia introspectiva’, não trouxesse tanto conteúdo cheio de gentilezas como as belas canções, os belos vídeos, as histórias, os filmes, as fotografias.

No fundo me considero uma pessoa de coragem e brio, afinal, mexer no seu lado mais obscuro e dar voz à coisas que você sente lá no fundo de sua alma, não é para qualquer pessoa. Poderia ser para qualquer um, mas poucos estão dispostos.

Young explicaria melhor que eu…

Acredito que grande parte da sociedade em geral, esconde seus medos, frustrações e psiques em um lugar muito profundo, preferencialmente inalcançável.

De uma maneira prática, as possibilidades de eu desenvolver um surto psicótico é menos potencial que naqueles que preferem ignorar sua própria sombra. Possuem medo de lidar com o desconhecido. Um caminho que temem entrar e nunca mais voltar. Não sei precisar quais os benefícios desta fuga, talvez a recusa e anulação seja importante para lhes dar a classificação que todos desejam: ‘normal’.

Quem sabe, ignorar a totalidade de sua persona, seja uma maneira eficaz encontrada para sobreviver à verdades que não conseguiriam suportar.

Partindo da ideia que pensamentos e traços de personalidade ficam escondidos em algum lugar inacessível, tentar entender-se por completo é como um mergulho apneico em um lago de águas paradas e profundas (alguém já deve ter dito isso). Tão profundas que se tornam escuras. Um mergulho ao seu lado negro, em seu fito, exige fôlego e a preocupação de manter a consciência durante a descida e retorno, qualquer distração ou inconsciência em um mergulho apneico, pode fadá-lo a nunca voltar à superfície.

Eu nunca me escondi de meus medos, sentimentos, angústias e decepções. Tentei me manter consciente em todas as ‘viagens internas’, na tentativa camicaze de sair delas mais fortalecido, preparado, consciente e senhor de mim mesmo.

É uma forma interessante de aperfeiçoamento pessoal, porém, lembre-se que em meio a tudo isso, estará o julgamento de quem não lhe conhece (e até de quem acredita lhe conhecer), de quem enxerga apenas a superfície da escuridão de seu lago sentimental.

Este julgamento inevitavelmente virá daqueles quem possuem medo de enfrentar tudo aquilo que rejeitam. Por isso tentarão lhe colocar em uma posição afastada, classificando você de diferente, lunático, depressivo, melancólico ou atormentado. Indiferente do rótulo que vão lhe dar, como deram a mim, não passa de uma busca desesperada de afastar de si mesmos, aquilo que acreditam não possuir:

Seu lado negro, seu lago negro.

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Reflexões•Relacionamentos

Sobre o que nunca foi…

19 de março de 2019 by Jeff Skas Nenhum comentário

Você nunca entenderá minhas atitudes, porque as julgou como és e não como são, turvas, envoltas nas brumas do passado.

Você nunca entenderá minhas intenções, porque você as percebe através de outros, levianamente deformada por desejos torpes e sórdidos,
de histórias e personagens que desconheço.

Você nunca entenderá minhas palavras, porque apesar de pronuncia-las,
você as sente ecoando em outras vozes.

Você nunca entenderá meu sentimento, porque você nunca o viveu.
Viveu outros, de outras formas, em diferentes intensidades e intenções.
Tantos iguais, tão desiguais de mim. Viveu outros, menos eu.

Você nunca saberá como seria, porque profetizou sozinha,
misturando fragmentos sentimentais, costurando retalhos de memórias,
voltando por caminhos dos quais, nunca viram minhas pegadas.
Reviveu os fins, imaginou-os em mim.

Você nunca saberá, porque julgou como seria, aquilo que nunca foi e que agora, já não será.

Um dia porém você perceberá, porque nunca deu certo.
Afinal, nunca fui eu. E a resposta para tudo, não estava em ti, nem em mim.
Mas no que nos tornaríamos ao se tornar ‘nós’.

Você quis enxergar à frente olhando para trás. Justo você, que julgou quem não esquece o passado, quando na verdade era ele que trazia a certeza de
te querer em meu presente. Do ‘nós’, restou você e alguns restos de mim.
Agora entendo e aceito que não será.

Nunca mais.

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